Dino começou a apresentar voto na manhã desta quarta-feiraBruno Peres / Agência Brasil
Dino ressalvou que, na sua opinião pessoal, ele apresentaria um voto muito mais duro do que todas as posições já apresentadas até agora na Corte. "As redes sociais, se dependesse de mim, receberiam um juízo extremamente negativo em relação ao que vem produzindo de ethos (conjunto de valores) nas sociedades humanas", afirmou.
"Não estou aqui para realizar o meu plexo de valores, um juiz não impõe sua subjetividade pessoal sobre um colegiado qualificado como esse", ponderou o ministro. "Não somos tutores da sociedade e não podemos agir de modo unilateral em relação àquilo que a humanidade vem produzindo, quer gostemos, quer não gostemos".
A regra geral, de acordo com o seu voto, deve ser a remoção após a notificação do usuário. Se a plataforma não retirar o conteúdo das redes sociais, poderá ser responsabilizada civilmente. Essa é a regra já prevista no artigo 21 do Marco Civil da Internet.
O ministro ainda estabeleceu situações em que a responsabilidade civil é cabível independentemente de prévia notificação judicial ou extrajudicial: postagens de perfis anônimos, incluindo perfis falsos e robôs, e Ilicitudes veiculadas em anúncios pagos e postagens patrocinadas.
Para Dino, as plataformas também poderão ser responsabilizadas se for comprovado que cometeram uma falha sistêmica ao deixar de remover conteúdos com crimes contra crianças e adolescentes, instigação ao suicídio, crime de terrorismo e apologia a crimes contra o Estado Democrático de Direito.
Dino ressaltou que, de acordo com seu voto, as plataformas não seriam responsabilizadas por postagens isoladas que tratem dos crimes listados. "É preciso aquilatar que isso é algo sistêmico, ou seja, há dezenas, centenas de mensagens em um mesmo espaço de tempo defendendo a invasão do Supremo, do Congresso, como de fato aconteceu, ou como esse caso (dos ataques às) escolas", explicou.
"Sobre a postagem isolada, incidiria o artigo 21. Se não há uma falha sistêmica, o usuário notifica a plataforma, se a plataforma não tomar nenhuma providência, nasce o dever de indenizar", esclareceu o ministro.
O voto de Dino segue uma linha similar à posição do presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso. Outros dois ministros (Dias Toffoli e Luiz Fux) votaram para derrubar o artigo 19 em sua totalidade, e o ministro André Mendonça defendeu a manutenção da regra atual.
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